quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Tarot de Waite faz 100 anos


Em 1910 o ocultista e mago Arthur Edward Waite (1857-1942) lança pela editora Rider  & Son, de Londres, o baralho de tarot que leva o nome da editora, o The Rider Tarot Deck. Com desenhos de Pamela Colman Smith (1878-1951). Esse veio a ser um dos baralhos mais difundidos no mundo  todo por todos os interessados em temas ocultos e mágicos! A grande revolução de Waite foi promover um baralho com imagens para o significado dos arcanos menores, em contraposição à estrutura clássica que mostrava apenas números associados a naipes. Ele lança uma tendência que viria para ficar na criação de baralhos: a interferência do autor na criação das imagens símbolo do tarot. Por um lado essa ação muito criativa favoreceu para que um número maior de pessoas encontre o seu baralho, não tendo de se enquadrar na estrutura do tradicionalismo. Por outro lado, criou tanta deformação ao representar os arcanos que alguns baralhos se tornaram irreconhecíveis como pertencentes à estrutura simbólica do tarot. Outro efeito colateral, digamos assim, da iniciativa de Waite foi o fato de que os desenhos de seu baralho não são claros quanto ao que querem representar! Isso trouxe um desdobramento dos possíveis significados das cartas o que, a meu ver, foi muito enriquecedor para a linguagem tarológica. 

À esquerda a versão proposta por Waite para
o dez de copas, à direita a versão clássica.

A versão do tarot de Waite traz ainda uma troca arbitrária e polêmica: A inversão dos arcanos de A Justiça e de A Força. Dentro da tradição do tarot esses arcanos correspondem aos números VIII e XI respectivamente. A inversão de Waite faz com o oitavo arcano (A Justiça) leve o número XI e o décimo primeiro arcano (A Força) fique com o número VIII.


A inversão dos arcanos A Força (XI) e A Justiça (VIII).

A justificativa nunca foi dada de modo claro, mas estudiosos desse baralho afirmam que foi a relação entre tarot, cabala e astrologia que motivou a inversão. Waite foi membro da Golden Dawn, a Hermética Ordem da Aurora Dourada, uma ordem secreta que adotou o tarot como seu instrumento de reflexão e meditação. Os membros da Golden acreditavam que o tarot teria derivado de sistemas mais antigos como a própria cabala. Na relação entre os arcanos e os caminhos cabalísticos a ordem desses arcanos inverte. Na relação astrológica acontece a mesma coisa! Veja isso: o arcano de O Imperador (Áries), O Hierofante (Touro), Os Amantes (Gêmeos), O Carro (Câncer), A Justiça (Libra), O Eremita (Virgem), A Roda da Fortuna (Júpiter – aqui um planeta e não um signo), A Força (Leão) e assim por diante... Ora, deve ter parecido lógico para eles que depois de Câncer, signo correspondente ao Carro, vem Leão. E que Libra, signo correspondente ao arcano de A Justiça, deveria vir depois de Virgem, como ocorre na sequência astrológica tradicional! É, assim parece fazer todo o sentido. A questão é de que o tarot é uma linguagem simbólica própria que não deve, e nem pode, ser distorcido em função de outros sistemas e linguagens simplesmente por serem mais antigos! Os arcanos são cosmogônicos, ou seja, seu simbolismo é de muita flexibilidade e podem ser relacionados a quase todos as outras disciplinas mágicas ou oraculares como a cabala, a astrologia, a numerologia, mitologia, etc. Hajo Banzhaf e Mary K. Greer, autores que se dedicam ao estudo desse baralho em particular discordam, pelos mesmos motivos que eu, dessa alteração dos dois arcanos e sugerem que se mantenha a ordem tradicional.

A Cruz Celta, também conhecida como Cruz Céltica, 
o método de leitura mais difundido do tarot.


Outra “novidade” trazida por Waite, e que pegou como fogo em mato seco, foi a leitura da Cruz Celta. Apresentada por ele como um antigo método usado por celtas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, esse jogo de dez cartas tornou-se o mais utilizado em todo o mundo e também com inúmeras versões. Algumas até mudando a disposição das cartas na mesa, mas a grande maioria manteve mesmo a forma original apresentada no livro The Pictorial Key to the Tarot. A verdade é que o estudo do tarot teve no baralho Rider Waite um divisor de águas só comparável ao impacto causado pelo lançamento, em escala mundial e com produção em série, do Thoth tarot e Aleister Crowley com desenhos de Frieda Harris, mas isso é outra história.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Reiki - A Medicina da Luz

Surpreendeu-me conhecer o reiki e descobrir que era uma técnica, por assim dizer, de aplicação de energia vital (ki  em japonês) com a imposição das mãos. E minha surpresa se deu pelo fato de vivermos numa época de plena confiança nos métodos científicos, os remédios  evoluíram muito e as respostas para as doenças, ou suas origens, parecem ter sido respondidas. Então qual o motivo de tantas pessoas no mundo procurarem reiki para serem aplicadas ou para se iniciarem?... É, a ciência deu para a humanidade todas as respostas que a mente poderia querer, mas eliminou as questões do espírito, a intimidade e a interação com o mistério. Muitas coisas não são explicáveis pelo prisma científico, e mesmo que fossem, não eliminaria a causa espiritual ou divina.

Crianças fazendo reiki. Simples, 
profundo e espiritual ao mesmo tempo!

Uma história ilustra bem isto. Os etruscos foram um povo que viveu na península itálica junto com os romanos, que em seguida se expandiram e dominaram seus vizinhos. E eles não ofereceram resistência física, mas preservaram sua cultura. E tanto foi assim que era possível reconhecer as diferenças entre os dois. O filósofo Sêneca dizia que a diferença básica entre um etrusco e um romano é de que os romanos acreditavam que os raios se formavam porque as nuvens se chocavam. Enquanto o povo etrusco acreditava que as nuvens se chocavam para formar os raios! Essa é a diferença do pensamento científico para o pensamento místico. Para os místicos há uma causa para tudo. A ciência apenas explica como acontece, mas não faz teorias sobre as causas, o que não as invalida! Certo? O acaso com significado veio a ser chamado mais tarde pelo psicólogo suíço C.G. Jung de sincronicidade. Jung tentou mostrar para a comunidade científica o que já era uma verdade para xamãs, místicos e ocultistas há milhares de anos!
Bem o que quero dizer é: *eu posso acreditar que a aurora boreal, por exemplo, é a dança dos deuses no céu. O cientista dirá que é apenas o choque das partículas do sol (Chamadas de fotoelétrons) contra a atmosfera da Terra. Ora, como ele pode provar que as partículas do sol contra a atmosfera da terra não são os deuses dançando?... Afinal quando dançamos também agitamos as partículas do ar! O místico diria: “Olha uma dança!” enquanto um cientista dirá: “Olha ele está agitando as partículas do ar!” O primeiro diz o que está acontecendo o outro diz apenas como. Um é interno, o outro é externo! São diferentes, mas não se anulam e nem tem competência para intervir um no outro. Haja visto o quanto das lendas e mitos vem se mostrando válidas atualmente!
O reiki é justamente isso, um resgate do mundo interior da humanidade. Um contato com o aspecto espiritual da existência. É um tratamento sem análises ou julgamentos, uma cura que não começa pela mente, apenas passa por ela. A compreensão dos fatos vem em decorrência de uma abertura interior. É uma nova forma de psicologia, uma que tem apenas troca de impressões e introspecção para a canalização da energia ki. Inúmeras vezes as pessoas se levantaram da mesa de atendimento dizendo: “Sabe, hoje percebi tal coisa..." ou “Nunca tinha notado o quanto eu faço isso!” 


Aurora boreal, um fenômeno natural explicado 
tanto pelo misticismo quanto pela ciência.

Alguns me perguntam se isso não é apenas troca de energia eletromagnética, que nada tem de espiritual. A essas pessoas eu cito a pesquisadora e paranormal Barbara Ann Brennan, autora do livro Mãos de Luz. Nessa obra ela diz ter visto por diversas vezes seres não físicos que estendiam vórtices de luz, como se fossem braços, que atingiam partes do corpo em que ela ainda não estava! Esse testemunho me fez entender duas coisas: Primeiro, a afirmação da minha mestra, que é a mesma de todos os mestres reiki experientes, de que o reiki é uma energia inteligente, que vai onde é preciso ir e que o fato de colocarmos as mãos noutras posições é apenas para facilitar o processo de meditação e introspecção que o reiki proporciona. Segundo, entendi melhor as declarações dos meus clientes que se sentiam tocados por muito tempo, por mãos quentes e um tanto pesadas até, numa determinada parte do corpo, digamos o abdômen, por exemplo. Então abriam os olhos e se espantavam ao notar que eu já me encontrava nos seus pés!
Sim o reiki é uma terapia espiritual com o auxílio de consciências superiores e inteligentes que estão no universo para ajudar na evolução de seres como nós! Por isso não esperem comprovações técnicas e materiais sobre o reiki! Eu diria (como digo sempre) façam a sua experiência. 
Esse é o verdadeiro saber!

* Os antigos romanos e os povos do Ártico tinham justamente essa crença.

Leia também: As Possibilidades do Reiki e Símbolos Reiki... Quando Usar? 


sábado, 27 de novembro de 2010

A Rainha de Espadas e a Intolerância

A tolerância representa o maior desafio da moderna sociedade. Os conceitos políticos de democracia fizeram surgir todo o tipo de diferença: social, cultural, étnica e de orientação política, religiosa e sexual. O bom desenvolvimento dessa qualidade, a tolerância, tornou-se fundamental para que não tenhamos um estado de guerra permanente na vida comum. Existe algo na humanidade, entretanto, que pende sempre para a condenação do outro, e a condenação ou rejeição dos diferentes. Somos todos orientados por um desejo de segurança que nos faz criar padrões para pensar que isso e aquilo são mais aceitáveis ou confiáveis que aquilo outro... E se o "aquilo outro" quer se salientar, ou se salienta,  mais do que seria seguro ou usual dentro de uma rotina conhecida, pronto! Temos uma tensão que levará a uma manifestação de intolerância. A intolerância é dirigida por um senso de moralidade que muda de tempos em tempos, mas tal mudança não se dá de modo pacífico e sem, é claro, fazer vítimas. E eis que temos nas mãos o dilema de que toda sociedade precisa de um vetor moral para se conduzir, caso contrário cria-se no caos. Por outro lado essa mesma moralidade precisará ser revista sazonalmente, o que gera sempre muita agitação. O ego gosta do status quo, isso reafirma a ele mesmo, a mudança o desestrutura.
A Rainha de Nuvens (Espadas),
do Osho Zen tarot. A moralidade
julgadora...
O que fazer? Bem, não pretendo vender a solução para o mundo, mas me parece que um caminho a seguir é  o de observar se as diferenças que são combatidas ameaçam de fato uma estrutura maior, ou se o medo nasceu apenas de uma ideia pré concebida e que da qual não temos nenhuma comprovação. Ora, a história recente está repleta de exemplos dessa tragédia! Os nazistas diziam que o caos alemão era decorrência do espólio dos judeus que guardavam dinheiro enquanto o país passava fome. Logo eles foram responsabilizados por toda a crise. Isso foi mais fácil do que admitir que a política externa alemã com seus vizinhos de fronteira tinha fracassado. Da mesma forma a AIDS foi taxada de "A praga gay", um castigo de Deus ao comportamento dos homossexuais, que copulavam sem ser para procriar, por simples luxúria, e praticavam sodomia. Essa era a conversa dos moralistas da época. Um discurso que logo caiu pelo ridículo que ele mesmo sustentava. A questão que foi levantada foi a seguinte: Só os gays copulavam por prazer nos anos 80? E por não envolver sodomia o lesbianismo teria sido protegido por Deus enquanto o homossexualismo masculino teria sido amaldiçoado...?
O mais importante é se reconhecer o quanto pode ser perigoso um apego demasiado à própria opinião, isso causa estragos. A Rainha de espadas incorpora os aspectos moralizantes da alma e leva isso de tal modo que pode tornar a vida insuportável para todos que a cercam, e ainda mais para ela mesma. Retomar a flexibilidade mental das crianças, como a vontade de aprender e conhecer com o diferente seria fundamental. Mas como a Rainha de espadas, estamos de modo geral com nossas crianças internas aprisionadas no gelo dos nossos conceitos petrificados.


A Rainha de espadas do Thoth tarot,
acima das nuvens, a criança e sua espontaneidade
congeladas por conceitos rígidos. 

Não podemos esquecer também que a verdade é multifacetada, e que a verdade maior é composta por essas múltiplas faces. Um único homem não a poderá olhar diretamente e vê-la em sua totalidade, mas todos juntos, trocando impressões e dialogando, é que poderão abranger a sua totalidade. As diferenças na verdade enriquecem o que conhecemos como cultura, e tudo o que não se renova morre. Assim sendo não se trata de não ter uma direção moral, mas sim de cuidar para que ela não endureça a ponto de não permitir que a vida aconteça.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tarot e Transformação

Arcano de O Sol, XIX, do
Gilded tarot, arauto da iluminação
da consciência...
Ao longo de mais de duas décadas de trabalho e exercício do tarot como prática tanto oracular quanto meditativa, tenho vivido cada dia com muitas gratas surpresas. Quantas coisas eu fui levado a refletir e transformar depois de uma "conversinha" com os arcanos...! Estudei muitos outros sistemas oraculares e o tarot foi o que mais me pareceu nos revelar o que está por trás das aparências, tanto de mim mesmo quanto de quem quer que me procure para interpretar as cartas.
Tenho insistindo com cada um dos meus clientes que não sou eu quem produz as leituras, mas que sou um tradutor de uma linguagem simbólica, meu papel é auxiliar a acessar a sabedoria intrínseca que há dentro de cada ser humano. Nas tradições mágicas ela é chamada de a sabedoria dos tempos. Os mais afeitos à psicologia, sobretudo junguiana, dizem que essa é a sabedoria do inconsciente coletivo manifestada através dos arquétipos, uma poderosa energia psíquica que se manifesta através dos símbolos. Não importando muito de que modo tal símbolo seja representado num baralho de tarot. O arcano de O Sol, por exemplo, é o símbolo arquetípico da felicidade, amor e êxito em qualquer baralho em que seja representado.
Arcano de  Julgamento ( The Aeon),
do Thoth tarot de Crowley, uma
tomada de consciência transformadora.
O que também continua me surpreendendo, negativamente, é a capacidade das pessoas em ouvir coisas tão profundas quanto as que os arcanos revelam, e muitas até se comovem de verdade com o que ouvem, sem com que façam daquilo um start para a sua transformação pessoal. Ainda persiste uma ideia de que o leitor é quem produz aquelas informações, por mais que elas sejam reconhecidas na vida de quem procura o oráculo. Como se fosse algo vindo de fora... Há também, segundo minha percepção, uma certa desorientação, algo do tipo "O que eu faço agora?". E um terceiro, e não menos lamentável item, a falta de comprometimento que algumas pessoas têm com a realização do seu bem estar, alegria e felicidade pessoal. A sociedade capitalista nos ensina que as conquistas estão fora de nós. As religiões nos ensinam que a salvação está fora de nós... Como um cara maluco, com umas cartas em punho pode afirmar que apenas com o que os arcanos dizem podemos começar um movimento de mudança em nossas vidas? Uma realização e uma salvação que vem de dentro...? O temor da mudança, o temor da simplicidade e de olhar para si mesmo com novos olhos é o grande entrave... Afinal, o que os outros vão pensar?
Felizmente há uma grande maioria de pessoas que, em progressivas visitas ao meu consultório, mostram através das próprias cartas do tarot o quanto apreenderam da última sessão, e verbalizam isso depois com muita satisfação ao verificar que o espelho interior refletiu mais uma vez com muita limpidez o que seus corações haviam tomado como proposta de evolução.

Leia também: Tarot Terapêutico - O que é?